Pássaros voltaram à liberdade pelas mãos de estudantes que acompanharam atividades de educação ambiental em suas escolas e, agora, devem cumprir suas funções no bioma Caatinga
“E tudo nascerá mais belo / O verde faz do azul com o amarelo / O elo com todas as cores / Pra enfeitar amores gris”. Os versos do cantor Djavan, mesmo lançados há 28 anos, resumem com poesia o momento em que o azul brilhante do Azulão, a crista vermelha do Tico-tico, o azul, o preto e o amarelo do Xexéu-bananeira, o cinza e o preto do Extravagante e o colorido de outras espécies voltaram a decorar o céu do Sertão de Alagoas, em mais uma soltura de animais resgatados pela equipe Fauna da Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI do Rio São Francisco).
Dessa vez, a volta à liberdade de 38 pássaros chegou pelas mãos de adolescentes inseridos em uma escola atendida pelo Projeto Sede de Aprender, dando ainda mais simbolismo ao ato e a esperança de que as próximas gerações jamais aprisionem as cores e o canto desses animais em cativeiro.
O Sede de Aprender é uma iniciativa do Ministério Público de Alagoas (MPAL), com apoio de outras instituições, que leva sensibilização ambiental, analisa a qualidade e a oferta de água nas escolas e proporciona ferramentas para a formação de gerações mais conscientes sobre os recursos hídricos e a importância do equilíbrio entre a natureza e a sociedade.
“A gente sabe que os pássaros não ficam felizes presos, também não se reproduzem”, ressaltou Ana Carla, de 16 anos. “Os passarinhos mantêm o meio ambiente em equilíbrio. É errado prender em uma gaiola porque tira o ciclo da vida deles. O canto deles na gaiola não é de alegria, é de melancolia”, emendou com discernimento Sara Soares Lima, de 15 anos.
Ambas ajudaram a fazer a soltura, que ocorreu nas primeiras horas da manhã dessa terça-feira (26), em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), diante de uma serra coberta pelo bioma Caatinga, em São José da Tapera.
“A soltura é um momento compensador por toda a dedicação, desde o resgate até os cuidados com a saúde dos animais, para que eles possam ser reintroduzidos na natureza, onde cumprem papéis de dispersores de sementes, polinizadores ou controladores de pragas”, explicou o coordenador da equipe Fauna da FPI do Rio São Francisco, Rafael Cordeiro. “Fica a esperança de que esses adolescentes repassem adiante as informações que obtiveram aqui hoje e sejam adultos com uma nova percepção sobre a importância do equilíbrio ambiental”, desejou.
Após a soltura das aves, os estudantes e os demais integrantes da equipe Fauna acompanharam uma breve explicação do coordenador do Instituto SOS Caatinga, Marcos Araújo, sobre manejo com serpentes. Na oportunidade, uma cobra jiboia, que estava aos cuidados do Instituto, também foi solta na mesma RPPN. “As serpentes possuem o seu papel no equilíbrio ambiental, por isso elas devem ser respeitadas e preservadas. Para isso, basta mantermos as precauções adequadas”, defendeu Marcos Araújo.
Vale lembrar que os 38 pássaros que voltaram à natureza no Sertão de Alagoas foram resgatados pela equipe Fauna da FPI do Rio São Francisco após trabalho de investigação e o recebimento de denúncias anônimas. Todos os responsáveis foram autuados e vão responder nas esferas administrativa e criminal.
Na atual edição da FPI, foram disponibilizados pontos para entrega voluntária de animais silvestres em algumas cidades da região Agreste, onde a atividade está concentrada. Quem for a um desses pontos, informados no Instagram @fpialagoas, para entregar qualquer animal criado em cativeiro não será responsabilizado administrativa ou criminalmente.
Por outro lado, quem é flagrado mantendo em cativeiro algum animal silvestre típico dos biomas brasileiros responde a todas as sanções legais. Para fazer qualquer denúncia nesse sentido, basta procurar o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) ou o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) em seus canais na internet. O denunciante não precisa se identificar.
Compõem a equipe Fauna da FPI do Rio São Francisco, além do IMA e do BPA, o Instituto SOS Caatinga, o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Ministério Público de Alagoas (MPAL).
A FPI do Rio São Francisco
A FPI tem o objetivo de melhorar a qualidade ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e a qualidade de vida dos seus povos. Os trabalhos acontecem de modo contínuo e permanente. Para isso, realizam-se o diagnóstico dos danos ambientais e a adoção de providências administrativas, cíveis e criminais com a indução de políticas públicas.
Como programa, a FPI é estruturada em três fases: planejamento, campo e desdobramentos. A fase de desdobramento compreende o acompanhamento e monitoramento dos diagnósticos realizados e a atuação de repercussões de medidas administrativas pelos órgãos envolvidos, cíveis e/ou criminais e pelo Ministério Público competente.
Também é na fase de desdobramentos que o poder público e a sociedade civil organizada contribuem na regularização dos empreendimentos, reparação de danos detectados e efetivação das medidas de proteção necessárias.
Participam da 14ª etapa da Fiscalização Preventiva Integrada a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), Batalhão de Polícia Ambiental da Polícia Militar do Estado de Alagoas (BPA/PMAL), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Francisco (CBHSF), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea/AL), Conselho Regional de Medicina Veterinária de Alagoas (CRMV/AL), Conselho Regional dos Técnicos Industriais da 3ª Região (CRT-3), Instituto Hori, Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Instituto Para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Marinha do Brasil, Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE), Ministério Público Federal em Alagoas (MPF), Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT), Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais (RMCT), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (SEMUDH), Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), SOS Caatinga, Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TCE/AL), Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL) e Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).
A FPI do Rio São Francisco em Alagoas é coordenada pelo CBHSF, MPAL, MPF e BPA/PMAL, que desenvolvem os trabalhos de inteligência, organização e divulgação das atividades e resultados para a população.
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