Nas primeiras horas desta quarta-feira, os cantos de dezenas de pássaros silvestres deram mais vida à natureza. Eles ecoaram por uma Reserva de Bioma da Mata Atlântica, reconhecida pela Unesco, como um grito de libertação, não por acaso, neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, data que marca a resistência do povo preto contra a escravidão no Brasil e que se tornou um símbolo da luta pela liberdade.
A reintrodução dos 96 animais ao seu habitat natural foi escolhida para acontecer justamente neste feriado nacional como forma de a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do Rio São Francisco prestar uma homenagem à população negra que ajudou na construção da identidade cultural do povo brasileiro. “A ideia foi fazer uma conexão entre a liberdade dos pássaros e a quebra de correntes com o fim da escravização de pessoas em nosso país”, explicou a promotora de Justiça Lavínia Fragoso, coordenadora do programa.
“É lindo de se ver esses pássaros ganhando liberdade. E mais bonito ainda é poder ouvi-los cantar, é um canto de alegria, dá para sentir bem isso”, comemorou o promotor de Justiça Alberto Fonseca, também membro da coordenação, após abrir uma gaiola para fazer a soltura de um dos animais.
Dentre as espécies libertadas estão Sabiá-laranjeira, Bico-de-veludo, Papa-capim, Vim-vim, Canário-da-terra, Sangue-de-boi, Garibalde e Xexéu-de-bananeira. A reserva natural onde ocorreu a reintrodução está localizada no Sítio Pau-brasil, propriedade da Usina Coruripe.
Os cuidados veterinários
Todos os animais soltos nesta quarta-feira foram resgatados de cativeiros nos três primeiros dias da FPI. Apesar de proibida, a conduta de capturar e manter presos animais silvestres ainda predomina no interior de Alagoas. As aves são os principais alvos dos caçadores.
“As pessoas podem criar animais silvestres, contanto que eles sejam de criadouros legalizados. A caça ilegal pode provocar um grande mal-estar para as aves e um desequilíbrio ecológico na região onde elas vivem, uma vez que cada espécie tem seu papel específico no meio ambiente”, explicou o médico veterinário Rafael Cordeiro, coordenador da equipe de Fauna da FPI.
Quando chegam ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas provisório), os animais são avaliados para que os médicos veterinários e biólogos façam os devidos encaminhamentos para cada um deles. Em havendo necessidade, eles recebem o tratamento medicamentoso adequado.
Parte dos pássaros resgatados não ganhou liberdade hoje porque precisou permanecer no centro de triagem da FPI para a devida reabilitação, a fim de que possa fortalecer a musculatura e, em seguida, ser reintroduzida à natureza.
Reprodução da espécie e entrega voluntária
Rafael Cordeiro também chama atenção para a importância da manutenção da biodiversidade com os animais vivendo na natureza: “Eles fazem parte da cadeia de desenvolvimento do serviço ecossistêmico, promovendo a dispersão de sementes, o controle de pragas e a reprodução das espécies”, detalhou.
As pessoas que tenham em sua posse animais silvestres poderão fazer a entrega voluntária à FPI. Nesta quinta-feira (21), o caminhão boiadeiro da Polícia Rodoviária Federal receberá os animais em São Sebastião. Das 10h às 16h, o veículo estará na Praça Roque Lagoa.
O endereço, o dia e o horário dos locais de entrega serão divulgados no perfil @fpialagoas do Instagram e no site https://fpisaofrancisco.inf.br/.
Quem demonstrar esse compromisso com a fauna receberá, no ato, uma muda de planta. A FPI alerta manter animais silvestres em cativeiro sem autorização legal é crime.
Compõem a equipe Fauna agentes do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), do Instituto de Preservação da Mata Atlântica (IPMA), do SOS Caatinga e do Ministério Público do Estado de Alagoas.
A FPI do Rio São Francisco
A FPI tem o objetivo de melhorar a qualidade ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e a qualidade de vida dos seus povos. Os trabalhos acontecem de modo contínuo e permanente. Para isso, realizam-se o diagnóstico dos danos ambientais e a adoção de providências administrativas, cíveis e criminais com a indução de políticas públicas.
Como programa, a FPI é estruturada em três fases: planejamento, execução e desdobramentos. A fase de desdobramento compreende o acompanhamento e monitoramento dos diagnósticos realizados e a atuação de repercussões de medidas administrativas pelos órgãos envolvidos, cíveis e/ou criminais e pelo Ministério Público competente.
Também é na fase de desdobramentos que o poder público e a sociedade civil organizada contribuem na regularização dos empreendimentos, reparação de danos detectados e efetivação das medidas de proteção necessárias.
Participam da 14ª etapa da Fiscalização Preventiva Integrada a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), Batalhão de Polícia Ambiental da Polícia Militar do Estado de Alagoas (BPA/PMAL), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Francisco (CBHSF), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea/AL), Conselho Regional de Medicina Veterinária de Alagoas (CRMV/AL), Conselho Regional dos Técnicos Industriais da 3ª Região (CRT-3), Instituto Hori, Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Instituto Para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Marinha do Brasil, Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE), Ministério Público Federal em Alagoas (MPF), Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT), Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais (RMCT), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (SEMUDH), Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), SOS Caatinga, Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TCE/AL), Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL) e Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).
A FPI do Rio São Francisco em Alagoas é coordenada pelo CBHSF, MPE, MPF e BPA/PMAL, que desenvolvem os trabalhos de inteligência, organização e divulgação das atividades e resultados para a população.
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