No dia dedicado à reflexão sobre a formação do Brasil com a participação do povo negro, o qual sempre foi privado de tudo e teve que lutar para ter acesso inclusive à educação, a Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI do Rio São Francisco) promoveu uma atividade de campo voltada para estudantes do Ensino Fundamental de Penedo: uma aula prática no barco-escola, durante um passeio pelo Velho Chico, nesta quarta-feira, 20 de novembro.
A iniciativa, que foi coordenada pelas equipes de Educação Ambiental e Sede de Aprender da FPI, muito mais do que tratar sobre práticas ambientais sustentáveis, teve como objetivo deixar claro que a educação deve ser inclusiva, universal e sem preconceitos.
Nesse sentido, o jovem Samuel Marques, de 21 anos, que tem paralisia cerebral e veio da comunidade quilombola Oiteiro, tem ainda mais motivos para comemorar a ocasião. Acompanhado pela mãe, dona Elen Marques, ele fez o passeio, acompanhou as palestras e realizou um plantio de muda na margem do Velho Chico.
“Eu vejo essa atividade aqui como um avanço de inclusão, hoje tem muita possibilidade de inclusão e ele se sente um membro da sociedade. A gente apoia muito a questão da conscientização para se tratar as pessoas por igual, sem preconceito de cor, raça ou qualquer outra coisa. A gente já passou por muito preconceito. E aqui é uma oportunidade para fortalecer as gerações para um futuro de muito mais respeito”, narrou dona Elen Marques, após acompanhar o filho no plantio de muda à margem do rio.
Samuel Marques e os outros 50 estudantes que participaram da ação são membros dos Clubes de Desbravadores Oreon e Gigantes da Mata, que tinham como representante Luciano Teles. Para ele, “quando cuidamos do meio ambiente, melhoramos a vida das pessoas mais vulneráveis”.
Segundo a promotora de Justiça Lavínia Fragoso, titular da 5ª Promotoria de Justiça da Capital (Recursos Hídricos) e uma das coordenadoras da FPI, a iniciativa do barco-escola cumpre os objetivos que vão além da fiscalização, que são prevenir danos, propagar informações de como proteger o meio ambiente e modificar condutas e comportamentos nocivos, ou seja, promover educação ambiental.
“Além disso, criamos a sensação de pertencimento e de responsabilidade com a preservação do meio ambiente e dos ecossistemas. Essas crianças e jovens se tornam propagadores de informações junto a suas comunidades e suas famílias. Por meio dessa ação, nos alinhamos ainda mais aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU nos quesitos educação de qualidade e ação contra a mudança global do clima”, elencou a promotora.
Promotor de Justiça da 4º PJC (Defesa do Meio Ambiente) e também coordenador da FPI, Alberto Fonseca ressaltou que, para preservar, é preciso conhecer o ambiente no qual se vive. “Esta é a importância da equipe de Educação Ambiental da FPI, trabalhando principalmente com as presentes gerações para formar as futuras. É assim que podemos promover uma mudança de mentalidade e evitar o que as gerações anteriores fizeram de degradação”, reforçou.
Esse é o mesmo entendimento do procurador da República Érico Gomes, do Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL) e que também coordena a FPI, para quem “as pessoas precisam tomar consciência daquilo que possuem para que aprendam a preservar”. “A consciência devolve a identidade, seja consciência de classe, de cor, de condição, de origem, e para isso precisamos de educação em sentido amplo. Este dia 20 de novembro, que agora é feriado nacional pelo Dia da Consciência Negra, é importante para esse tipo de reflexão. É tomando consciência de si que as pessoas podem lutar, por exemplo, contra o racismo ambiental, que afeta ainda mais as populações negras e pobres”, refletiu Érico Gomes.
Durante o percurso, a embarcação fez uma parada na margem do Rio São Francisco, em Penedo, para o plantio de três espécies de plantas que ocorrem na região. “Trazer esses alunos de escolas públicas é importante também para torná-los multiplicadores. Mas não fazemos isso apenas na FPI, fazemos durante o ano todo, essa iniciativa é permanente. O Rio São Francisco vem sendo degradado há muito tempo, é desmatamento da mata ciliar, é lançamento de esgoto. Por outro lado, as comunidades estão muito mais conscientes de que dependem do Rio para sobreviver”, emendou o superintendente de Preservação Ambiental do IMA e coordenador da equipe de Educação Ambiental da FPI, Pedro Normande.
A equipe de Educação Ambiental da FPI do Rio São Francisco é composta pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL), Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) e, na atividade desta quarta-feira, contou com apoio da Marinha do Brasil e da Secretaria de Meio Ambiente de Penedo.
A FPI do Rio São Francisco
A FPI tem o objetivo de melhorar a qualidade ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e a qualidade de vida dos seus povos. Os trabalhos acontecem de modo contínuo e permanente. Para isso, realizam-se o diagnóstico dos danos ambientais e a adoção de providências administrativas, cíveis e criminais com a indução de políticas públicas.
Como programa, a FPI é estruturada em três fases: planejamento, execução e desdobramentos. A fase de desdobramento compreende o acompanhamento e monitoramento dos diagnósticos realizados e a atuação de repercussões de medidas administrativas pelos órgãos envolvidos, cíveis e/ou criminais e pelo Ministério Público competente.
Também é na fase de desdobramentos que o poder público e a sociedade civil organizada contribuem na regularização dos empreendimentos, reparação de danos detectados e efetivação das medidas de proteção necessárias.
Participam da 14ª etapa da Fiscalização Preventiva Integrada a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), Batalhão de Polícia Ambiental da Polícia Militar do Estado de Alagoas (BPA/PMAL), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Francisco (CBHSF), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea/AL), Conselho Regional de Medicina Veterinária de Alagoas (CRMV/AL), Conselho Regional dos Técnicos Industriais da 3ª Região (CRT-3), Instituto Hori, Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Instituto Para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Marinha do Brasil, Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE), Ministério Público Federal em Alagoas (MPF), Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT), Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais (RMCT), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (SEMUDH), Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), SOS Caatinga, Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TCE/AL), Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL) e Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).
A FPI do Rio São Francisco em Alagoas é coordenada pelo CBHSF, MPE, MPF e BPA/PMAL, que desenvolvem os trabalhos de inteligência, organização e divulgação das atividades e resultados para a população.
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